A guerra de Trump contra o Fed: uma batalha pela autonomia econômica se desenrola

O presidente Donald Trump emitiu uma ordem removendo a governadora do Federal Reserve, Lisa Cook, de sua posição, alegando autoridade constitucional sob o Artigo II e a Federal Reserve Act de 1913. Em uma declaração publicada em sua plataforma de mídia social, Truth Social, Trump citou uma “denúncia criminal” de William Pulte, chefe da Federal Housing Finance Agency (FHFA) alinhado a Trump, que acusou Cook de fraude hipotecária. As alegações giram em torno de inconsistências nas solicitações de hipoteca de Cook, onde ela supostamente assinou documentos alegando que duas propriedades diferentes eram sua residência principal em períodos sobrepostos. Cook, a primeira mulher afro-americana a servir como governadora do Fed, negou as acusações e afirmou que soube das alegações por meio de reportagens na mídia, e não por investigação direta, prometendo não renunciar e desafiar a remoção na justiça [1].

O Federal Reserve respondeu enfatizando as proteções legais consagradas na Federal Reserve Act, que estipula que governadores só podem ser removidos “por justa causa”. O banco central descreveu esses longos mandatos e salvaguardas de remoção como um componente vital de sua independência, garantindo que as decisões de política monetária sejam tomadas com base em dados e interesses econômicos de longo prazo. O advogado de Cook argumentou de forma semelhante que a ordem de remoção de Trump não possui fundamento factual ou legal e que ela buscará ações legais para contestar a decisão [1].

A ação de Trump gerou fortes críticas de legisladores e ex-funcionários do Fed. A senadora Elizabeth Warren, principal democrata no Comitê Bancário, condenou a ação como uma “tomada de poder autoritária” que viola a Federal Reserve Act e deve ser revertida judicialmente. Enquanto isso, Trump criticou repetidamente o presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, pela decisão do Fed de manter as taxas de juros, acusando-o de não agir no melhor interesse dos consumidores americanos. O esforço mais amplo de Trump para influenciar a governança do Fed inclui a indicação de Stephen Miran, economista da Casa Branca, para uma vaga no conselho e a substituição de governadores que estão saindo por indicados alinhados a Trump [2].

A possível remoção de Cook daria a Trump uma maioria de 4-3 no conselho de governadores, caso a indicação de Miran e a substituição de Cook fossem confirmadas. Essa mudança poderia inclinar a política monetária do Fed para a agenda de Trump, potencialmente impactando a independência do banco central e sua capacidade de tomar decisões imparciais baseadas em dados. A ex-funcionária do Fed, Lael Brainard, alertou que esse tipo de interferência política poderia levar a uma inflação e taxas de juros mais altas, ecoando a turbulência econômica dos anos 1970, quando ocorreram ataques semelhantes à independência do banco central. Brainard também destacou o efeito inibidor que isso poderia ter sobre os funcionários do Fed, desencorajando o debate aberto sobre decisões políticas por medo de retaliação política [3].

Os mercados apresentaram reações mistas aos acontecimentos. Os rendimentos dos títulos do governo dos EUA de longo prazo aumentaram, indicando preocupações dos investidores sobre a independência do Fed e as possíveis implicações para a economia em geral. Embora o dólar americano tenha inicialmente caído após o anúncio de Trump, ele já se estabilizou. Os analistas permanecem divididos sobre como esse impasse se desenrolará, mas muitos enfatizam a importância de manter a independência institucional do Fed para garantir a estabilidade econômica e a confiança pública de longo prazo [2].

À medida que os processos legais avançam, a situação levanta questões mais amplas sobre o equilíbrio de poder entre o executivo e órgãos reguladores independentes. A recente decisão da Suprema Corte sobre o status único do Fed como uma “entidade quase privada” sugere que a capacidade de Trump de remover membros do conselho pode ser limitada. No entanto, a Casa Branca parece determinada a testar os limites legais, com Trump prometendo continuar os esforços para remodelar o Fed de acordo com suas prioridades econômicas. As próximas semanas provavelmente trarão novos desdobramentos tanto na batalha judicial quanto na dinâmica política em torno da governança do Federal Reserve [3].

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