A negociação de criptomoedas mais quente deste ano desmoronou de repente; os investidores devem vender com prejuízo ou aumentar suas posições?

As negociações de criptomoedas mais populares deste ano esfriaram abruptamente. Alguns investidores disseram que “já esperavam por isso”, enquanto outros decidiram dobrar suas apostas.

Esta foi a “negociação preferida” durante a maior parte do ano: vender ações ou tomar empréstimos e investir pesadamente em bitcoin, ethereum e outras criptomoedas. Os investidores elevaram o preço das ações dessas “empresas tesouraria de criptomoedas”, vendo-as como ferramentas para amplificar os retornos das apostas no volátil mercado de criptomoedas.

Michael Saylor inaugurou esse modelo em 2020, quando transformou uma pequena empresa de software chamada MicroStrategy no atual gigante de bitcoin chamado Strategy. No entanto, com a queda acentuada dos preços do bitcoin e do ethereum, as ações da Strategy e de seus imitadores também caíram. No pico de julho, o valor de mercado da empresa era de cerca de 128 bilhões de dólares, mas agora caiu para cerca de 70 bilhões de dólares.

Essa liquidação atingiu grandes investidores, incluindo o famoso capitalista de risco Peter Thiel — que apoiou várias empresas tesouraria de criptomoedas — e também investidores comuns que seguiram os “evangelistas” comprando essas ações.

O próprio Saylor permanece otimista, afirmando nas redes sociais que o bitcoin está em “promoção”. Os céticos já previam essa correção, pois as ações das empresas tesouraria de criptomoedas geralmente apresentam um prêmio em relação ao valor intrínseco dos tokens que detêm.

“O conceito inteiro não faz sentido para mim, é como pagar 2 dólares por uma nota de 1 dólar”, disse Brent Donnelly, presidente da Spectra Markets. “Esses prêmios acabarão sendo comprimidos.”

Quando essas empresas tesouraria de criptomoedas surgiram, ofereceram um canal de investimento para investidores institucionais que antes tinham dificuldade em acessar criptomoedas diretamente. Mas os fundos negociados em bolsa (ETF) de criptomoedas lançados nos últimos dois anos agora oferecem a mesma solução.

A BitMine Immersion Technologies é uma grande empresa tesouraria de ethereum, apoiada por Thiel e operada pelo veterano estrategista de Wall Street Tom Lee. As ações da empresa caíram mais de 30% no último mês.

A ETHZilla, por sua vez, passou de uma empresa de biotecnologia para uma empresa tesouraria de ethereum, com Thiel também como investidor. As ações da empresa caíram 23% em um mês.

Durante a maior parte deste ano, sob o impulso do governo Trump, favorável às criptomoedas, os preços das criptomoedas subiram continuamente. O entusiasmo gerado pelas empresas tesouraria de criptomoedas impulsionou ainda mais os preços dos tokens. Mas essa alta terminou abruptamente em 10 de outubro — quando a incerteza nas relações comerciais entre China e EUA desencadeou uma liquidação no mercado. O recorde de duração do shutdown do governo e a incerteza sobre a política monetária do Federal Reserve também pressionaram os preços.

O preço do bitcoin caiu 15% no último mês. No mesmo período, as ações da Strategy caíram 26%, e o ETF relacionado da Tuttle Capital Management — MSTU (que visa obter o dobro do retorno da Strategy) — caiu 50%.

“As empresas tesouraria de ativos digitais são essencialmente ativos de criptomoedas alavancados, então, quando as criptomoedas caem, elas caem ainda mais”, disse Tuttle. “O bitcoin já provou que não vai desaparecer, e comprar na baixa traz retornos.”

Para onde vão as ações das empresas tesouraria de criptomoedas?

Pelo menos um grande investidor ajustou seu portfólio após a queda dessas ações. O famoso gestor de fundos hedge Jim Chanos fechou seu fundo em 2023, mas continua negociando por conta própria e aconselhando clientes. Ele vinha vendendo a descoberto Strategy e comprando bitcoin, acreditando que, já que os investidores podem comprar bitcoin diretamente, não faz sentido pagar caro pelas ações da empresa de Saylor. Na última sexta-feira, ele informou aos clientes que era hora de encerrar essa operação.

Em entrevista no domingo passado, ele afirmou que as ações das empresas tesouraria de criptomoedas ainda estão supervalorizadas — em parte porque seus preços ainda estão acima do valor das criptomoedas que detêm, mas já não é tão absurdo. “A lógica desse investimento já se concretizou”, escreveu ele em carta aos clientes.

Enquanto as posições em criptomoedas mantiverem seu valor, a maioria das empresas que se financiaram para comprar criptomoedas provavelmente não enfrentará uma crise no curto prazo. Algumas empresas levantaram grandes quantias de dinheiro e ainda têm caixa suficiente para comprar criptomoedas quando os preços estão baixos, ou até mesmo adquirir concorrentes.

No entanto, analistas dizem que empresas enfrentando prejuízos terão dificuldade em emitir novas ações para comprar mais criptomoedas, o que pode pressionar os preços das criptomoedas e levantar dúvidas sobre o modelo de negócios dessas empresas.

“Muitas empresas estão em apuros”, disse Matt Cole, CEO da empresa tesouraria de bitcoin Strive. A Strive levantou fundos no início deste ano para comprar bitcoin, pagando em média mais de 10% acima do preço atual.

As ações da Strive caíram 28% no último mês. Ele afirma que a Strive está em uma posição favorável para “resistir à volatilidade”, pois recentemente levantou fundos por meio de ações preferenciais, e não de dívida.

Cole Grinde, um investidor de 29 anos de Seattle e vendedor do setor de bebidas, comprou cerca de 100 mil dólares em ações da BitMine a cerca de 45 dólares cada, quando a empresa começou a acumular ethereum no início deste ano. Até agora, esse investimento já perdeu cerca de 10 mil dólares.

Ainda assim, Grinde diz que está aumentando sua posição. Ele compensou parte das perdas vendendo opções da BitMine. Sua confiança na BitMine vem da crescente popularidade da blockchain ethereum (a rede que emite ethereum) e da influência de Lee.

“Acho que desde que ele assumiu, seus contatos e carisma pessoal ajudaram as ações a disparar”, disse ele sobre Lee. Lee trabalhou 15 anos no JPMorgan, é sócio-gerente da Fundstrat Global Advisors e comentarista frequente em programas de TV de negócios.