Hsiao-Wei Wang, diretora executiva adjunta da Ethereum Foundation, usou a metáfora de “Ethereum é uma escada” para descrever a evolução do ecossistema na última década. Agora, essa escada está guiando o mundo blockchain para um futuro mais livre, aberto e colaborativo.
Na recente conferência de desenvolvedores Ethereum Devconnect, realizada em Buenos Aires, Argentina, o fundador do Ethereum, Vitalik Buterin, mudou seu estilo habitual focado em detalhes técnicos e discutiu o “valor existencial” do Ethereum a partir de uma perspectiva mais macro.
O Ethereum está completando seu rito de passagem para a maioridade. Desde o lançamento da mainnet em 2015, durante dez anos completos, o Ethereum passou da fase de infraestrutura para definir sua influência on-chain. Como Vitalik disse em seu discurso: “O Ethereum pode se tornar uma bandeira, liderando um mundo mais livre, aberto e colaborativo, sustentado por tecnologias abertas sem permissão e segurança descentralizada.”
1. Mudança de Mentalidade: de Foco Técnico para Exploração de Valor
O escopo das palestras de Vitalik está mudando de um simples roteiro técnico para uma reflexão mais profunda sobre princípios.
● Comparando o conteúdo das palestras de 2024 e 2025, essa mudança é especialmente evidente. No ano passado, ele se concentrou principalmente nos detalhes técnicos do “computador mundial”, explicando em detalhes como o L1 serve como âncora de confiança e como o L2 funciona como uma GPU complementar.
● Na época, ele enfatizou: “O motivo pelo qual o computador mundial do Ethereum consegue se unir é porque cada GPU está conectada à máquina mais confiável por meio de sistemas de provas otimistas, provas de conhecimento zero, SNARKs, STARKs, Jolt, Plonk e várias outras tecnologias.”
● Este ano, Vitalik começou sua apresentação usando a FTX como um exemplo negativo, criticando sua falta de solvência como exchange centralizada e destacando a diferença essencial entre o Ethereum e mecanismos de confiança centralizados.
Ele incorporou amplamente ferramentas criptográficas, como provas de conhecimento zero e criptografia totalmente homomórfica, e introduziu o conceito de “cosmolocal” (global local), esclarecendo que o Ethereum é uma rede global, não criada para agradar uma empresa específica ou superpotência.
2. Filosofia de Governança: Juros Compostos em Escada e Governança de Guardião
A Ethereum Foundation usa a metáfora da “escada” para revelar a filosofia de gestão da evolução contínua do ecossistema.
● Hsiao-Wei Wang, diretora executiva adjunta da fundação, explicou em sua palestra: “O Ethereum é uma escada”, uma escada constantemente elevada pela comunidade global, sem um ponto final predefinido, oferecendo um caminho que todos podem subir em seu próprio ritmo. Ela destacou que o Ethereum de hoje não é apenas uma blockchain, mas uma infraestrutura pública que nutre novos tipos de ativos, identidades, culturas e formas de colaboração.
● O papel da fundação é “estabilizar a escada”, não subir ao topo sozinha. Wang resumiu a nova fase da fundação em três competências principais: confiabilidade, flexibilidade e verdadeira responsabilidade de governança.
● O Ethereum manteve zero tempo de inatividade em todas as grandes atualizações, uma confiança construída por padrões de engenharia mantidos a longo prazo, acumulados bloco após bloco.
3. Avanço Técnico: Provas ZK e Validação em Tempo Real
Tecnologia ZK-EVM entra em fase Alpha, alcançando provas em tempo real com GPUs de consumo.
● Vitalik anunciou na conferência que já existem provadores capazes de gerar provas em tempo real de blocos do Ethereum usando dezenas de GPUs de consumo. Esse avanço marca uma grande conquista em escalabilidade e eficiência de validação para o Ethereum.
● A Pico Prism zkEVM da empresa Brevis obteve avanços significativos em testes recentes. Nos testes de setembro, a Pico Prism alcançou 99,6% de provas em tempo real em 12 segundos, usando apenas 64 placas de vídeo Nvidia RTX 5090 de consumo. Esse avanço significa que o custo computacional das provas finalmente alcançou a velocidade de produção de blocos, tornando a validação leve possível pela primeira vez com hardware acessível.
● Provas em tempo real quebram o modelo atual de validação. Atualmente, cada validador reexecuta cada transação para validar o bloco, exigindo hardware caro e criando um gargalo fundamental. No novo modelo, um provador gera uma prova e os outros validadores a verificam em milissegundos.
4. Atualização Fusaka: Operação Ininterrupta e Compromisso com a Confiabilidade
A próxima atualização Fusaka da mainnet do Ethereum, marcada para o próximo mês, sinaliza uma nova fase para o Ethereum.
● Sobre essa atualização, Hsiao-Wei Wang explicou que o Ethereum, ao entrar na “Fusaka”, deve se concentrar em três competências principais: confiabilidade de manter 100% de produção de blocos contínua em todas as grandes atualizações; flexibilidade para acomodar caminhos tecnológicos diversos no ecossistema; e governança de guardião, onde a fundação se importa, mas não controla o Ethereum.
● Wang enfatizou que a década de conquistas do Ethereum vem de inúmeros testes e persistência. A rede manteve 100% de disponibilidade em todas as grandes atualizações, refletindo essa confiabilidade e permitindo que os usuários construam sem medo.
● O pesquisador de segurança do Bitcoin, Justin Drake, acrescentou que a atualização Fusaka do Ethereum está prevista para dezembro e simplificará as provas em tempo real. “O EIP-7825 limita o uso de gas por transação, permitindo mais provas paralelas por meio de sub-blocos.”
5. Adoção Institucional: Fusão de Finanças Tradicionais e Descentralização
● Danny Ryan, ex-pesquisador principal da fundação, destacou o papel fundamental do Ethereum entre descentralização e instituições. Ryan compartilhou sua experiência de transição do desenvolvimento de protocolos para aplicações institucionais. Ele criticou a ineficiência das finanças tradicionais, como a fragmentação do mercado, liquidação de ações em T+1 e de títulos em T+2, muito inferior à liquidação instantânea do Ethereum.
● A arquitetura dos sistemas institucionais tradicionais é obsoleta, como camadas de leis e papel. Mas Ryan também percebeu uma forte demanda institucional por descentralização. Do ponto de vista institucional, descentralização na camada de infraestrutura, 100% de uptime, segurança para trilhões de dólares em ativos e uma camada de aplicação madura com privacidade são necessidades fundamentais.
● Ryan enfatizou que, ao preencher a lacuna de entendimento, as instituições perceberão a necessidade do Ethereum. Em termos de arquitetura, ele apontou que o design modular do Ethereum e o ecossistema L2 são altamente atraentes para instituições, pois podem construir L2s voltadas para ativos específicos com parceiros, compartilhando a segurança e liquidez do Ethereum.
6. “Manifesto Trustless”: Retorno aos Princípios Básicos
● O recente “The Trustless Manifesto” publicado por Vitalik e coautores é a pedra angular filosófica do rito de passagem do Ethereum. Este documento é um chamado à ação para desenvolvedores, pedindo-lhes que reafirmem o compromisso com os princípios fundadores da rede: construir sistemas baseados em matemática e consenso, não em pessoas ou plataformas.
● O manifesto propõe três “leis” do design trustless: sem segredos críticos, sem intermediários indispensáveis, sem resultados não verificáveis.
● Termina com uma declaração forte: “Quando apenas os privilegiados podem participar, recusamos chamar o sistema de ‘sem permissão’.”
● O manifesto compara a trajetória atual do Ethereum com a evolução do e-mail. O e-mail começou como um protocolo aberto e descentralizado, onde qualquer um podia rodar seu próprio servidor. Hoje, filtros de spam, listas de bloqueio e sistemas de reputação baseados em confiança tornaram praticamente impossível para usuários comuns hospedarem seus próprios servidores de e-mail.
7. Perspectivas Futuras: Do Computador Mundial ao Livro Razão Mundial
● Em reflexões recentes, Vitalik propôs de forma mais concreta o Ethereum como “livro razão mundial”. Esse conceito transmite melhor o valor central do Ethereum. Ele comparou: “Se considerarmos o livro razão (Ethereum) como um livro, então o ETH é como a ‘tinta’ que escreve no livro razão. E a tinta pode representar as funções do L2.”
● O papel do Ethereum pode ser dividido em duas partes: primeiro, oferece uma ferramenta para proteger a liberdade, autonomia e capacidade organizacional das pessoas, sem depender de indivíduos, empresas ou países; a segunda parte é a construção da comunidade global.
● O Ethereum atraiu pessoas preocupadas com finanças descentralizadas, novas formas de organização, proteção de privacidade e governança democrática. A própria comunidade do Ethereum ainda tem valor insubstituível. Sobre a questão crucial da privacidade, Vitalik enfatizou: “Privacidade é um foco que devemos priorizar, privacidade é liberdade, é um direito importante que todos devemos proteger. Todos no ecossistema Ethereum devem apoiar o conceito de privacidade.”
Ele acrescentou: “Não deveríamos ter ‘carteiras de privacidade’, a privacidade deveria ser um recurso de todas as carteiras, e as funcionalidades de privacidade deveriam ser integradas perfeitamente às carteiras existentes.”
Ryan Sean Adams, do Bankless, destacou que, com uma taxa de expansão triplicada a cada ano, a mainnet do Ethereum atingirá 10.000 TPS em abril de 2029. A verificação por conhecimento zero pode levar a camada base a 10.000 transações por segundo, o objetivo final do blockchain: alcançar escalabilidade em massa sem sacrificar descentralização e segurança.
A escada do Ethereum já está construída, e como disse Hsiao-Wei Wang, cada novo degrau construído por um desenvolvedor se tornará o ponto de partida para os que vierem depois.
