Mais simples que uma carteira, mais rápido que um cartão: o aplicativo Polkadot quer trazer o Web3 para o dia a dia!

No momento em que o número de usuários do Web3 está praticamente estagnado, o Polkadot APP está tentando romper esse impasse. Não é mais uma carteira complicada, mas sim um aplicativo on-chain que qualquer pessoa pode usar, bastando digitar um nome para começar.

Na edição mais recente da entrevista Space Monkeys, Jay convidou Birdo, que está desenvolvendo o Polkadot APP em parceria com a Parity, para conversar sobre o conceito de design do aplicativo, seu público-alvo e como ele pretende levar o mundo cripto para pessoas de fora do círculo com uma experiência "tão simples e rápida quanto passar um cartão".

Desde o registro de identidade on-chain sem login, passando pelo pagamento com gift card em parceria com a Raise, o lançamento iminente do cartão Visa não-custodial, até a governança e o mecanismo de autossustentação por trás do DAO, este produto está redefinindo o que é um produto Web3.

Quebrando o impasse: atraindo pessoas de fora com o Polkadot APP

Jay: No episódio de hoje do Space Monkeys, recebemos Birdo, que está colaborando com a Parity para criar um novo aplicativo de consumo para o Polkadot, o Polkadot APP. Hoje vamos conversar sobre o que esse app faz, quem é o público-alvo e o futuro do Polkadot em produtos para consumidores. Seja bem-vindo, Birdo.

Birdo: Obrigado pelo convite. Estou muito feliz de estar aqui, o sol está brilhando em Berlim, o clima está ótimo, perfeito.

Jay: Pois é, que maravilha! Para quem é esse novo aplicativo do Polkadot que você está desenvolvendo?

Birdo: Nossa ideia inicial era para "novatos", mas na verdade qualquer pessoa pode usar. Se você já é um usuário antigo do Polkadot, também pode usar nosso produto sem problemas. Mas o público principal realmente são os iniciantes.

Jay: Você acha que isso é uma "lacuna" no ecossistema de aplicativos do Polkadot?

Birdo: Eu diria que isso não é só um problema do Polkadot, mas do setor inteiro.

Jay: Você quer dizer da indústria cripto como um todo?

Birdo: Sim, de toda a indústria cripto. Embora as coisas estejam mudando aos poucos, como mais carteiras começando a oferecer backup e sincronização em nuvem — algo que há seis meses era raro.

Mas nosso conceito de design é diferente, não seguimos o caminho tradicional das carteiras Web3, não exigimos que você memorize frases-semente ou assine várias transações logo de cara.

Sempre falamos em "trazer mais pessoas para as criptomoedas", "popularizar o Web3", "difundir o Polkadot", mas se apresentarmos uma experiência tão complexa para o usuário comum, eles simplesmente não vão usar.

Por exemplo, se eu der uma carteira (como a Talisman) para meu irmão ou irmã, que são pessoas bem técnicas, eles ainda achariam "isso aqui é estranho e complicado demais". Acho que essa é a realidade: para a maioria das pessoas, esses conceitos são muito distantes.

Jay: Mas eu também penso, se você der esse Polkadot APP para pessoas do círculo Web3, talvez elas fiquem um pouco "desconfiadas" — porque você não enfatiza tanto valores tradicionais do Web3 como "descentralização".

Birdo: Pode ser, esse risco existe. Mas acho que essa é a nossa "aposta".

A aposta é a seguinte: atualmente, o número de usuários do Web3 está praticamente estável, então, se quisermos mudar isso, precisamos fazer algo diferente. Acho que é exatamente isso que estamos tentando.

Jay: Exato. Você mencionou a Talisman, talvez muitos que estão usando esse novo app e conhecendo o Polkadot agora não saibam do seu histórico. Você veio da Talisman, um excelente projeto de extensão de navegador — eu mesmo uso todo dia, acho fantástico.

Birdo: Sim, para um aplicativo cripto multichain, ele realmente é muito bom.

Jay: E quais experiências e ideias da Talisman você trouxe para esse novo Polkadot APP?

Birdo: Na Talisman, sempre buscamos "facilidade de uso", mas também pensamos nas necessidades dos "usuários avançados". Por exemplo, o usuário pode fazer staking de DOT facilmente, mas se quiser, pode escolher o pool de staking e ver detalhes. É como alguns apps que, ao entrar nas configurações, você descobre várias funções escondidas.

Eu mesmo sou um nerd de tecnologia, gosto de jogar. Sempre que abro um jogo novo, a primeira coisa que faço é ir no menu de configurações e ajustar tudo.

Então, na Talisman, nosso conceito era: experiência de uso extremamente simplificada. O Polkadot APP que estamos fazendo agora segue essa ideia, mas removemos aquelas configurações complicadas, como escolher manualmente o validador, por exemplo.

Jay: Dá para ver que você valoriza muito a experiência do usuário e o fluxo de operação. E quanto ao design? Tanto o novo Polkadot APP quanto a Talisman têm um design muito bonito.

Birdo: Obrigado! Eu pessoalmente me importo muito com design, embora não seja designer, adoro coisas bonitas. Temos até um grupo na equipe só para compartilhar inspirações de design, como pôsteres, interfaces de produtos, etc.

Temos um designer incrível na equipe, chamado Julian. Ele trabalhou mais de dez anos na Apple, realmente trabalhou com o Jony Ive (ex-diretor de design da Apple). Ele participou do design do Apple Watch, Vision Pro e até de alguns produtos não lançados, que talvez nunca sejam lançados. Nossas primeiras versões já tinham um design bom, eram um ótimo ponto de partida. Mas comparado ao produto final, ainda havia diferença.

Chegar a um design maduro leva tempo, por isso não lançamos o app cedo demais.

Basta digitar o nome: a experiência on-chain do Polkadot APP é mais rápida que passar o cartão

Jay: Para quem já tem o app ou vai começar a usar, o que eles veem ao abrir o app?

Birdo: Na verdade, eles não precisam fazer login. Isso é uma das coisas mais legais. Você baixa o app e vê quatro opções de função:

• Criar identidade
• Gerenciar ativos
• Pagamento com criptomoedas
• Staking de criptoativos

Claro, usamos termos mais "populares". Depois você entra em uma tela e digita seu nome. Só isso.

Jay: Então esse "nome" é sua identidade?

Birdo: Isso. E não precisa de login, nem verificação Google, nem senha, nem PIN, só digitar o nome e entrar.

Jay: Uau. Então essa identidade não é só interna do app, é on-chain?

Birdo: É on-chain. No ano passado, fizemos uma votação para implementar o registro de identidade on-chain, e foi aprovada. Então, nesse processo, pagamos as taxas de transação on-chain para o usuário e registramos a identidade on-chain.

Para o usuário, parece que está usando um app comum: digita o nome e continua, mas nos bastidores já criamos a identidade on-chain, registramos e pagamos as taxas. Isso é "esconder a complexidade técnica". Por que alguém deveria pagar só para criar um nome de usuário?

Jay: Pois é, não faz sentido.

Birdo: Exato, custa um pouco, mas nós arcamos com esse custo.

Jay: Entendi, isso é o custo de aquisição de cliente de vocês, né? Faz sentido. Agora, já abri o app, digitei o nome, e depois?

Birdo: Depois você pode acessar a página da carteira.

No momento, só suportamos dois tokens, para simplificar a experiência: um é o DOT, o outro é o "dólar digital", atualmente USDC. Dependendo da região, pode ser USDT, HOLA ou outro stablecoin. Mas na interface chamamos tudo de "dólar digital".

Você pode comprar cripto com moeda fiduciária, usando uma on-ramp chamada MELD, que acho muito boa. Também pode transferir, enviar tokens para outros. Como você já tem identidade on-chain, tudo é on-chain, basta digitar parte do nome do destinatário, tipo J-A-Y, e ele já sugere — você aparece, clico e transfiro.

Acho que, embora a lista de contatos seja importante, ao registrar nomes de usuário, já criamos uma agenda on-chain por padrão.

Outro recurso importante — nos EUA, você pode pagar diretamente com cripto. No app, escolhe uma loja, o valor, clica em "pagar" e pode usar DOT. Por trás, temos parceria com a Raise, que trabalha com gift cards. Quando você faz a operação, o app envia seu DOT para a Raise, eles confirmam o recebimento on-chain e, via API, geram um gift card e enviam o código de volta para o app. Você pode escanear na loja ou colar o código ao comprar online.

Jay: Todo esse processo de fundo, o usuário não vê nem precisa se preocupar, certo?

Birdo: Exatamente, é totalmente imperceptível.

Jay: Mas esse fluxo não é complexo? Quanto tempo leva?

Birdo: Na verdade, é bem rápido, otimizamos bastante. No início do ano, levava uns 15 segundos, achamos lento. Depois ajustamos o processo, agora leva de 1 a 2 segundos.

Claro, depende do ambiente do usuário, mas em média é esse tempo. Na verdade, é mais rápido do que pegar a carteira, abrir o zíper, tirar o cartão e passar — é quase o mesmo tempo.

De Starbucks a Walmart, o Polkadot APP permite pagamentos em todos

Jay: Então, o usuário pode pagar com cripto da carteira, mas só em varejistas específicos?

Birdo: Sim, atualmente só em lojas específicas. Mas o catálogo da Raise é enorme, nos EUA são mais de 1000 marcas parceiras.

Jay: Tipo Starbucks, Home Depot, Walmart?

Birdo: Isso, Nike também. As marcas que você usa no dia a dia estão lá. Talvez não para pequenas compras diárias, mas para gastos maiores semanais ou mensais.

Jay: Não dá para usar na cafeteria da esquina.

Birdo: A não ser que seja um Starbucks. Mas essas marcas têm cerca de um milhão de lojas. Então, embora sejam "específicas", a cobertura é grande, incluindo algumas lojas locais, não só redes nacionais.

Jay: Entendi, a Raise só funciona nos EUA?

Birdo: Não. Eles atuam em vários países. Quando expandirmos, vamos levar esse recurso para a Europa, Reino Unido, Canadá, etc.

Jay: Entendi. Mas no início, só nos EUA, certo?

Birdo: Sim, começamos pelos EUA, lançamos, testamos, coletamos feedback. Se o produto encontrar fit com o mercado e os usuários gostarem, expandimos para outros lugares.

Cartão Visa Polkadot APP: não-custodial, sem mensalidade, pode usar DOT direto

Jay: A novidade mais recente é que vocês vão integrar um cartão de débito Visa, um cartão de pagamento Visa. Acho que muita gente já conhece esses cartões pré-pagos.

Birdo: Sim, mas o nosso é um pouco diferente. Não é um "pré-pago" tradicional, é um cartão não-custodial — ou seja, usa diretamente o saldo da sua carteira.

Jay: Ou seja, não dá para usar crédito?

Birdo: Isso, não é cartão de crédito, não tem crédito por enquanto.

Jay: Entendi, interessante.

Birdo: É um caminho interessante.

Jay: Pois é, tecnicamente é possível.

Birdo: Sim, com tecnologia descentralizada, isso é totalmente viável.

Jay: O que torna esse cartão Visa especial?

Birdo: Quando pesquisamos o mercado, não achamos nenhum cartão não-custodial que atendesse nossas necessidades. No início do ano, a MetaMask lançou um cartão, acho que foi um dos primeiros cartões de carteira realmente não-custodial, e a Gnosis também lançou um. Mas ainda são poucos.

Acredito que "auto-custódia dos fundos" é um princípio muito importante, que devemos sempre buscar. Então, depois do lançamento desse cartão, entramos em contato com o time responsável e conseguimos essa parceria. Além de ser "não-custodial", outro grande diferencial é — praticamente não tem taxas:

• Sem taxa de emissão
• Sem mensalidade
• Sem consumo mínimo

Como o cartão é não-custodial, não precisa recarregar antes, basta ter saldo na carteira para gastar. Diferente de outros cartões, que cobram 2% para recarga ou saque, aqui a taxa só aparece na hora do consumo, e é uma taxa de transação bem pequena. O desconto é feito no momento da compra. Acho isso totalmente razoável — afinal, está convertendo cripto em dinheiro utilizável no mundo real.

Jay: Na verdade, o custo por trás disso é alto.

Birdo: Sim, normalmente é caro. Já recebi USDC e, ao sacar por exchange centralizada, a taxa não é baixa.

Jay: Lembro que quando troquei por moeda fiduciária, a taxa era de 1,5% ou 1,6%, só recentemente consegui baixar para 0,6%. Mas ainda dói.

Birdo: Concordo totalmente. E depois de trocar por moeda fiduciária, ainda tem que deixar o dinheiro no banco — basicamente, "entregar o dinheiro para o banco guardar".

Jay: Exato, é como pagar para deixar o dinheiro no banco.

Birdo: Pois é, você paga para entregar o dinheiro ao banco — é estranho. Por isso, acho que nosso cartão é uma ótima escolha para quem quer gerenciar os fundos de forma autônoma e gastar no mundo real. Ele é uma ponte entre o Web3 e o mundo real.

Jay: Voltando ao "app bonito e simples". Na interface aparece quanto tenho de DOT e aquele... como vocês chamam?

Birdo: USDC, que chamamos de "dólar digital".

Jay: Isso, dólar digital. O dinheiro gasto no cartão sai de qual saldo?

Birdo: Para deixar a interface simples, criamos um mecanismo tipo "recarga", ou seja, você pode transferir dinheiro para uma subconta do cartão. Essa subconta é um endereço derivado da sua frase-semente principal. Você transfere para a conta do cartão, mas pode sacar a qualquer momento. Achamos que essa divisão de fundos é clara para o usuário. Por exemplo, parte do dinheiro está na conta principal, parte na "conta do cartão", outra parte no staking — essa ideia de "bolsos de dinheiro" ou "múltiplas contas" é bem Web2. Como no banco: conta corrente, conta de hipoteca, cartão de crédito... Esse sistema é familiar. No nosso app, os saldos são separados, mas o dinheiro é todo seu.

Jay: Entendi. E quando o cartão Visa será lançado?

Birdo: Estimamos de 8 a 12 semanas a partir da aprovação oficial, esse é o cronograma.

Jay: Então, mais ou menos dois meses depois do lançamento do app?

Birdo: Isso. Atualmente, a Polkadot Community Foundation e as equipes envolvidas já estão revisando os contratos, acho que logo vai avançar.

Jay: Uma dúvida: se vai ter o cartão Visa, por que manter o pagamento em varejistas específicos? Por que não usar só o Visa?

Birdo: Boa pergunta. Acho que nosso app é um produto especial — é uma mistura do espírito Web3 com a experiência do usuário real. O método de pagamento atual tem a vantagem de poder ser usado desde o registro, sem preencher outras informações. Basta digitar o nome de usuário, a carteira já funciona, pode transferir e pagar.

Jay: Então não precisa fornecer endereço, nome real, nada exigido pelo Visa?

Birdo: Isso, se não pedir o cartão Visa, não precisa fazer KYC (verificação de identidade).

Jay: Então, se não quiser Visa nem KYC, ainda posso gastar cripto pelo app?

Birdo: Com certeza. Por isso achamos que as duas formas de pagamento são uma combinação muito boa.

Cashback + baixas taxas: como o Polkadot APP pode convencer usuários a largar o Visa tradicional?

Jay: Lembro que o pagamento com gift card tem cashback, certo?

Birdo: Tem sim. O cashback é baseado no sistema da Raise. Eles negociam descontos e promoções com os lojistas — tipo, eles fazem as promoções para nós. Às vezes dizem: "Ei, o cashback do Uber agora é 9%, não 3%." Eles negociam esses benefícios para nós. Então, aproveitamos de graça as vantagens que eles conseguem, é ótimo para nós.

Jay: Entendi. E o cartão Visa também terá cashback?

Birdo: Por que não teria?

Jay: Sério? De onde vem esse cashback?

Birdo: Ainda estamos discutindo com a Circle e a emissora do cartão. Talvez o cashback não seja muito, mas se conseguirmos 1%, já é bem competitivo. Porque assim, a taxa de transação é praticamente compensada pelo cashback — você entende.

Jay: Uma dúvida mais fundamental: o app é feito para "não-cripto usuários", mas por que eles largariam o Visa do banco para usar o de vocês? Como convencê-los a migrar?

Birdo: Discutimos muito isso internamente, é crucial. Acho que há muitas regiões no mundo que não têm tanta liberdade financeira ou infraestrutura como Alemanha ou Canadá. Para essas pessoas, o app pode ser muito útil, talvez a melhor opção.

Jay: Concordo muito. Sempre pensei que um app super simples desses teria muito potencial na América do Sul — claro, desde que não seja na Tron.

Birdo: Pois é, nada de Tron. E nosso produto, mesmo comparado a outros Web3, tem vantagens:

As taxas da rede Polkadot são muito baixas, transferir stablecoin custa frações de centavo.

O apoio do ecossistema também é nosso "superpoder" — o produto tem o suporte de toda a comunidade Polkadot na divulgação.

Então acho que não só pessoas de Berlim ou Canadá vão usar, eu mesmo vou usar.

Jay: Quem já trabalha com Web3 e entende cripto certamente vai usar esse Visa para gastar, sem dúvida.

Birdo: Com certeza. Minha opinião é: se queremos substituir o sistema bancário tradicional, temos que incentivar as pessoas a guardar dinheiro on-chain, por exemplo, no Polkadot. No futuro, até o salário pode cair direto no app, converter para cripto automaticamente, e todo o dinheiro fica no app. Muita gente quer ter um pouco de bitcoin, ethereum — seja para investir ou proteger valor. Então pensamos em oferecer essas opções no app, acho que é um caminho promissor.

Jay: Vocês planejam suportar mais tokens? Ou permitir que o usuário aceite um pouco mais de complexidade? Tipo adicionar ethereum, bitcoin, etc.

Birdo: Sim, estamos discutindo isso. Acho que suportar bitcoin, ethereum é bom e faz sentido. O Polkadot nasceu para ser uma plataforma multichain, então devemos suportar mais do que só DOT. Pelo menos bitcoin, ethereum, até Solana, que têm "marca forte", devemos suportar. Assim, aproveitamos o reconhecimento dessas marcas para atrair usuários.

Jay: Especialmente se o usuário puder escolher "adicionar bitcoin", pesquisar e já aparece uma mini-carteira, a experiência é ótima.

Birdo: Isso, ou até adicionar um recurso de "DCA" (Dollar Cost Averaging, compra periódica).

Jay: Se adicionar isso, fica muito legal.

Birdo: Esses recursos fazem sentido, eu mesmo quero usar. Hoje é complicado, tem que transferir para a blockchain, configurar tudo, a barreira é alta. Acho que podemos adicionar muitos recursos úteis para tornar o app um verdadeiro "futuro das finanças".

Desafios e ambições por trás do Polkadot APP

Jay: No desenvolvimento do app, que desafios vocês enfrentaram? Afinal, vão submeter à App Store, certo?

Birdo: A App Store é um grande desafio. Não quero reclamar muito, mas temos que lidar com instituições centralizadas que não entendem bem o que fazemos e às vezes dão feedbacks sem sentido. Com a Apple, tivemos várias conversas.

Jay: Imagino que a Apple seja sensível a esse tipo de app, né?

Birdo: Na verdade, a Apple se preocupa em "ter uma fatia". Eles querem comissão — por exemplo, em transações dentro do app, cobram 30%. Felizmente, nosso app evita isso: não fazemos transações cripto diretas no app, então não entra na comissão deles. Mesmo assim, o processo de revisão é rigoroso. Eles querem garantir que a App Store não seja poluída por apps maliciosos, especialmente os que envolvem bitcoin ou dinheiro, que podem esconder riscos ou ameaçar a segurança dos usuários. Então, a Apple protege os usuários e sua marca.

Jay: E como é desenvolver esse app dentro da Parity? Antes você estava na Talisman, uma equipe pequena e ágil. Agora a equipe é maior, mais responsabilidades, quais os desafios?

Birdo: Temos que entender que agora desenvolvemos para um DAO, via Polkadot Community Foundation (PCF). Então, temos que garantir que a propriedade e a PI do app pertençam à fundação comunitária. Isso significa que os detentores de DOT são os verdadeiros donos do produto.

Isso é muito legal — talvez seja o primeiro app móvel lançado por um DAO, ou pelo menos um dos primeiros. E esse cartão de pagamento também pode ser o primeiro cartão lançado por um DAO.

Jay: Não falamos disso ainda. Vocês estão trabalhando com uma entidade nas Ilhas Cayman, certo? Empresa? Instituição? Companhia?

Birdo: Sim, é uma entidade, pode-se dizer uma organização comercial.

Jay: Uma entidade. Ela é financiada pelo Polkadot DAO e é a dona do app. Então, qualquer detentor de DOT, tecnicamente, é um dos "acionistas" do app.

Birdo: Exatamente. Interessante, né? Se você mostrar esse modelo para um advogado: "Oi, é isso que estamos fazendo." Eles geralmente reagem: "Oh? Interessante." Ainda há poucos precedentes legais sobre DAOs. Teve o caso Ooki DAO, e outro que não lembro agora, mas são poucos, certo?

Então, enfrentamos muita complexidade de gestão:

Temos que criar um bom produto,

proteger a marca,

e envolver de verdade a comunidade de detentores de tokens, mantendo interesse e consenso.

É muito mais complexo do que um time de seis pessoas lançando um produto.

Jay: Mas é muito legal. Eu baixo o app, preencho as informações, ganho alguns tokens DAO, meus ativos são autocustodiados e ainda "possuo" parte do app que uso.

Birdo: Isso mesmo! E mais: esse cartão de pagamento gera taxas em cada transação, certo? Uma parte vai para o prestador de serviço, outra parte para o PCF. Assim, o PCF ganha receita com o uso do cartão. Quanto mais usado, mais fundos para continuar desenvolvendo o projeto.

No cenário ideal, com o aumento do volume de transações, o PCF pode se tornar autossustentável. É o que queremos ver. Acho que qualquer projeto desenvolvido nesse ambiente (especialmente com "dinheiro grátis") precisa de um caminho para a "autossustentação".

Claro, sei que nem sempre é possível. Mas, no fim, tudo tem um custo:

• Ou o usuário paga,
• ou o investidor paga,
• ou o próprio DAO paga.

Não dá para fazer um produto de alta qualidade de graça. Você pode fazer um script, uma ferramenta simples em Vyper, isso talvez seja grátis. Mas se quiser um produto com design, experiência do usuário e profissionalismo, é como um triângulo — tem que pagar o preço.

Jay: Sempre alguém paga. Então, que seja bonito — com autocustódia, no seu celular.

Birdo: Concordo totalmente.

Jay: Fantástico, Birdo. Obrigado por tudo que vocês estão fazendo, é muito empolgante. Mal posso esperar para usar o produto. Vou rever essa conversa depois, vai ser ainda mais interessante. Obrigado mais uma vez por participar e compartilhar!

Birdo: Muito obrigado pelo convite!